A Nuvem – 9ª Bienal do Mercosul
Maria Lind inicia a sua exposição em relação à questão “por que mediar a arte?” com a própria definição da palavra “mediação”. No fundo, para se discutir todas as questões levantadas por esta primeira, é fundamental esmiuçar isto: o que é efectivamente a mediação. Será realmente a transmissão pragmática de uma mensagem? Na verdade nunca chegaremos a uma conclusão. Tal como com a arte. A essa ninguém se atreve a atribuir significados, preferem viver em conformidade com a mesma fazer dela tudo aquilo que ela poder ser. Na mediação procura-se o mesmo. Não em tamanha escala, mas sim, exactamente o mesmo. Procura-se quebrar convenções, explorar novas formas de a concretizar e chegar a propostas que se transformam um pouco por todo o mundo. Porque cada mediador, assim como cada artista, tem a sua visão da coisa (não é por acaso que ambos ´”habitam” uma mesma instituição, ou digamos, lugar) e também eles, não querem interferir com a interpretação de cada observador. Ou querem?
Em tempos, na mediação, havia esse costume, o de instruir o espectador e de o tornar num consumidor educado. A partir do momento em que a arte chegou à sua era contemporânea, essa proposta de mediação sofreu inevitavelmente alterações. Há quem ainda a siga à risca! Mas são muitos os que procuraram alargar o seu campo de possibilidades, com base na estética, ou seja, com base na interpretação. Ainda assim, também se fizeram saber, aqueles que escolheram fugir a esta prática. A de mediar! Para que assim fosse possível uma ligação mais limpa entra a obra e os seus observadores. Mas desses, tal como eles não dizem, não há muito a dizer. Ou haverá? Um dia falaremos disso.
No MoMA, com Barr, passou-se do cidadão responsável para o consumidor educado, ou formador de gosto, por meio de um esquema amplamente comercial (uma prática de mediação) onde a arte não dispunha dessa capacidade de suscitar no espectador a crítica e muito menos a provocação, visto que a sua função era única e exclusivamente a de consumo.
Chegou então, Victor E. D’Amico, que distanciou o departamento educativo do MoMA das ideias de Barr, com o objectivo de promover a participação dos espectadores na arte. Como? Afastando o público desta ideia de envolvimento e fruição da arte e estimulando o distanciamento entre os dois. Não se procurava a fruição da arte, procurava-se sim, que os visitantes explorassem a sua própria criatividade e gerassem outros olhares em relação à sua ligação com cada obra de arte. Uma nova prática de mediação! A proposta era não só a geração de um espectador emancipado, mas sim a geração de um espectador participante!
Surge então, a fruição colectiva, estimularam-se encontros colectivos compartilhados com a arte a fim de que, em grupo, numa visita dinâmica, os visitantes se ajudassem na emancipação uns dos outros, gerando a individualidade de cada um. E acabando com a ideia de “espectador construtivista” (a arte que ensina). Assentamo-nos agora, na ideia de “espectador emancipado” (a arte que transforma). A justificação para esta proposta de mediação é simples: a arte não tem que ser imposta aos seus espectadores, deve sim “ser potente o suficiente para se apoiar em seus próprios pés e a falar por si própria independentemente de contextos ‘exteriores’” (pág. 181) e ser arte como arte!
Enquanto a arte não se apresentar como ela mesma, ou melhor, enquanto as propostas de mediação não a deixarem apresentar-se como ela mesma, não se vai gerar um envolvimento activo desinteressado, do público com a obra. Procuramos por este “desinteresse”, não porque a arte seja desinteressante, mas porque na relação entre observador e obra não tem que ter uma intenção, um caminho certo, uma conclusão objectiva. Não tem que haver um interesse específico. É exactamente o que for.
Mas então, por que mediar a arte?
Hoje mediamos para que se esgote a ideia da procura por novos públicos só porque sim. Só porque “é por aí”. Hoje mediamos porque existe uma preocupação, por parte dos mediadores, em alcançar novos públicos sim, mas porque eles completam a arte. Porque lhes cabe a eles participar. Não como intérpretes, mas como actores. Hoje mediamos porque se abriu espaço para que a obra se completasse com a participação do espectador e não, porque o queremos instruir na arte, ou porque queremos fazer uso do seu consumo, ou pior, porque tencionamos fomentar sua falsa cidadania responsável. E quebramos as regras, para que a prática da mediação não se limite às suas velhas possibilidades. E voe, por aí. Por onde se poder encontrar.
Recensão Crítica do Texto
Porque Mediar a Arte?, Maria Lind