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Confiaram-me a vida que conceberam, o António.
Queridos Diana e Pedro, Um dia escrevi sobre o vosso amor. Hoje quero escrever-vos pelo amor que vos tenho. Olho-vos, todos os dias, embevecida. Como quem tem ainda tanto para recolher. E vou conservando. Em pensamentos, palavras, rascunhos e apontamentos. O que vou sentindo. A verdade. O compromisso. A bondade. O respeito. A empatia. O colo. O amor. Vejo-vos cuidar. Do vosso amor. Do amor que nutriram em pessoas. Da vossa família. Dos vossos amigos. Da vossa vida. Vão regando as plantas que vão semeando e cuidando de cada uma com a serenidade de quem está a construir a fundação mais sólida que vamos poder encontrar.…
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Amar, foi sempre mais dor do que amor
Fui coração aberto por tanto tempo. Soube sempre receber-te. Soube sempre vencer medos. Soube sempre dizer-te que sim. Mesmo quando os pássaros não cantavam. Mesmo quando os rios não corriam. Soube sempre estender os braços e recomeçar. . Deixei-me um dia cair. Não recordo ao certo quando. . As quedas, se lhes dermos esse espaço, podem ser lugares sem fim. E eu caí sem me dar conta do que significaria deixar-me ir. . Hoje, bem cá no fundo, concebo que este lugar para onde fugi me está a negar receber-te. Não me deixo amar. Quando nos entregamos aos medos, oferecemo-lhes relevância. . Não me lembro da última vez que te…
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Sobre desocupar o coração. Ou não.
Tenho o coração ocupado. Já faz tempo que não me deixava chegar. Sem saber porquê, nunca o consegui contrariar. Estava ocupado e não me dizia nada. Nunca tive um coração preenchido que batesse tão baixinho. Um bater ténue. Suave. Quase que imperceptível. Foi preciso encontrá-lo. E num reparo. Num suster da respiração. Percebo que durante todo este tempo, não se deixava ocupar por estar já indisponível. Esteve sempre ocupado. No silêncio de quem não se quer deixar conhecer. O silêncio protege-nos. E talvez por isso, está ocupado e não ocupa nenhum lugar. Não é correspondido. Mas também não se deixa denunciar. Tenho um coração pequenino, preenchido, em cada canto, num…
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Ver-te, não é o mesmo que olhar para ti
Estou imersa numa imagem tão bonita. Vejo-te. Como se o mundo estivesse todo a olhar para ti. Parámos, só para te olhar. Parámos e não se ouve respirar. Parámos e tens o mundo inteiro a suster o ar por ti. Na vida, nunca vivi momento mais bonito do que este de ter vista para ti. Há um deslumbre que me corre desde que me embati com a linha ténue que desenha o teu existir. Há um silêncio longo entre o momento em que te olho e este em que me reconheces. Porque há muito que nunca tinha parado para olhar para o que nunca vi. E eu nunca tinha parado…
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Está muito escuro e daqui não te consigo ver, mas espera por mim, estou a chegar.
Não te escrevo faz tempo. Talvez porque já não te sei escrever. Talvez porque já não te sei sentir. Ou porque estamos longe. Talvez seja apenas isso. A distância que faz sobrevoar, entre o vento leve e as folhas de outono, o sentir. Não te escrevo faz tempo, mas quero escrever-te todos os dias. Porque não quero esquecer-me do que é escrever sobre ti, sobre amor. Mas há um caminho gélido sem ti, que me levou as palavras e que me tem distanciado deste lugar. Quero caminhar sem ter medo de te encontrar. Ou de não nos voltarmos a cruzar. Quero caminhar sem olhar pelo ombro, ou distanciar as pessoas.…
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Não perdoarei a sua morte ao mundo. Porque foi o mundo que a levou de nós… não Deus.
Este ir sem que a possamos re-olhar é a dor maior de segurar. Foste tantas coisas para nós, avó..Foste histórias e canções. Foste colo e cozinhados. Foste tardes e manhãs. Foste alegria num sorriso. Foste tantas coisas para nós, avó. Temíamos este dia há muitos anos mas sempre nos seguraste em força. Eras a maior força que conhecemos… estiveste tantas vezes perto da morte e nunca a deixaste vencer! Eras a pessoa mais forte que conhecíamos avó e não te poder rever dói mais do que alguma vez imaginámos… não me quero esquecer das caretas que ainda fazíamos a duas. Não me quero esquecer das vezes em que te relembrei…
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Nunca vos falei dela porque a guardava no coração
Hoje o dia é dela. Mal sabíamos que não estávamos completos quando ela nos chegou. Era tão pequenina. Está na nossa família desde que nasceu e, para mim, é a número 4 das irmãs. Tratamo-nos por primas mas sentimo-lo como se fôssemos irmãs. Ela tem um bocadinho de mim, revejo isso nas suas escolhas, atitudes, conversas e conquistas. Confesso que me arrepia, mas orgulha-me ver espelhados todos os valores que sempre procurei que carregasse consigo. Tem-nos todos nas mãos. Não imaginam a sorte que têm por se terem cruzado com ela. Ela é o meu abraço mais fundo. Os ouvidos mais pacientes. Os conselhos mais sérios. O ombro mais seguro.…
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Um sair debaixo da asa acompanhado de um voo incrível!
Já não nos vemos todos os dias. Ele está a fazer o seu caminho e nós estamos a vê-lo correr por esse mundo fora. Está a crescer a olhos vistos. Traz consigo uma alegria imensa por poder correr sozinho. Conta-nos histórias, mostra-nos o que viu. E nós vamos largando o colo e sorrindo de longe. Hoje faz 7 anos. Já não recusa beijinhos. Precisa deles para continuar. É a força que lhe vamos dando e ele segue caminho feliz. Era isto que idealizávamos. Era isto que queríamos para ele. Um sair debaixo da asa acompanhado de um voo incrível, sem que, para isso, fosse preciso olhar para trás. Está seguro…
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Quando deixou de ser suportável para mim
Eu posso ser amor, posso ser sentimentos. Posso ser poesia em cartas escondidas. Posso ser um bom dia de olhos rendidos. Posso ser desejo. Bocejo. . . Também posso ser algo menos sério. Posso ser cuidado e precaução. Posso ser companhia. Posso ser quem espera, quem ouve e não desanima. Posso ser o estado emocional certo capaz de se colocar no incerto até que se torne certo. Posso não me sentir completa e aceitar partilhar meio barco, contigo. Posso ser tudo. Posso ir sendo qualquer coisa. . . Mas também posso não ser. Posso não deixar que apenas te lembres de me trazer de volta quando o frio…
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O que é isto de “saber dizer adeus”?
Vamos continuar a nossa conversa sobre este cuidar de ti? Falámos em abrandar. Num observar e reflectir. Na mudança. Nas pequenas mudanças que te levam a uma maior. Num olhar para os teus sentimentos. E não te esqueceres de sentir o teu corpo. Num mudar de perspectiva, que transforma sustos em noites bem dormidas. No saber recusar e não te deixares voltar ao lugar que te consumiu. Falámos em tirares tempo para ti. E terminámos com um saber dizer adeus. Hoje é aqui que vamos começar. O que é isto de “saber dizer adeus“? Não estamos a falar de outra coisa que não as nossas escolhas. Saber dizer…