Cassiopeia – Miguel Graça
Miguel Graça envolve-nos, a cada texto, num constante diálogo de dualidades, coberto de segredos e incertezas. Esta sua peça foi o espelho de mais um brilhante texto, cheio de… Quantos já se amaram aqui? E quantos já deixaram de o fazer ? Traz-nos tantas dúvidas quanto certezas. Traça tantos caminhos, como descaminhos. Faz-nos deduzir uma série de relações e depois rouba-nos tudo. Num segundo eram amantes, no outro, irmãos. Num segundo era amor. No outro, dor. E somos capazes de inferir tudo isto, acreditando em todos os cenários que as personagens constroem e nos fazem crer que estamos certos. E apenas existia um sofá, 55 plantas e dois bancos. 55 é o mesmo que dizer muitas. Nas suas personagens, ou actores, nunca saberemos de quem são as histórias que contam, mas nas suas personagens o discurso é sempre ríspido, directo e sincero. Como se de o pensamento se tratasse, em palavras, camuflado. Como se não fôssemos todos assim? A diferença é que em cena, lhe dão voz. Esse pequeno momento em que tudo se suspende e o que pensamos se faz ouvir. E nisto. Muda de cena. De cenário. De rumo. Tão brusca como levemente. Por vezes nem damos por ela e caímos, sempre, nas suas histórias. Porque nos seus textos vemos histórias de todos e de todas as vidas que por ali passam para os ver. Vemos a dor de cada um embrulhada numa comédia demasiado inteligente. E só nos damos conta, à saída. A morte de um pai não tem nada de cómico. A verdade é essa. Mas quem ali estava e sentiu essa dor, chorou. Mas também sorriu. E talvez mais do que esperava. Miguel Graça tem esta capacidade única de nos fazer duvidar do que sentimos. Ou se o que sentimos é certo sentir. E em pequenas salas de teatro, escondidas por Lisboa, faz-nos crer, sempre, que tudo se resume a uma questão. Passamos a vida a fazer o que não queremos fazer e não há mais vidas, há só está. É só isto.
Obrigada a todos os actores que com ele nos fazem sentir tudo isto! São enormes. São brilhantes. E enchem-nos o dia, mesmo que a história se repita. Ou não. Nunca saberemos se sim. Se não.
Crítica Artística
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