Dédalo -Miguel Graça
Um texto que nos enche de um nada que nos diz tudo. Que nos leva numa viagem incessante por entre palavras que todos conhecemos e histórias que já todos vivemos. Aproxima-nos. Afasta-nos. Faz-nos conceber em mente cada uma das descrições narradas e coloca-nos em cada uma delas, como se fôssemos essa quarta pessoa de que tanto se fala mas que nunca se vê. Num reboliço de emoções, peripécias e desilusões, dois actores, presentes, e um autor, ausente, cansam e conquistam-nos o pensamento entrando e saindo da realidade, somando pitadas de ficção. Contam-nos as suas histórias sem nunca sabermos o quanto suas são mas falam-nos desse aqui e agora onde temos o corpo mas não temos a mente. Esse aqui e agora que todos vivemos e revivemos em vidas distintas, onde o que hoje acontece a um, amanhã acontece a outro. Falam desse estar, apenas por estar, onde nada nos acontece e tudo se passa lá fora como se ninguém o fizesse, nem por um segundo. Estar. Ser. Continuar. Encontrar o que temos de mais duro cá dentro e continuar a viver nessa constante ascensão e queda de tudo o que temos e nada detemos. Porque vivemos suspensos num conto de fadas e entregamos tudo a uma verdade ilusória. Ali, não vemos uma peça com início, meio e fim. Mas vemos uma peça com um aqui e um agora. Não vemos uma peça com personagens concretas mas vemos uma peça com personagens mistas. Cheias de ti. Cheias de mim. Cheias de todos. E “há medida que o tempo avança, tudo se estranha e tudo se resume a mantermo-nos vivos”.
Crítica Artística
Em Cima Da Hora – Instagram