Não Assim
Perdeste-me no dia em que escolheste não me ter. Ou não olhar para trás. Perdeste-me exactamente no momento em que escolheste o amanhã em detrimento de um agora, maior. Maior porque dois é maior que um. Ou um e meio, pelo menos.
Chegaste-me sem me entregares o teu passado. E saíste deixando apenas isso. A certeza de que ainda és corpo e meio … de alguém. Metade de ti é muito dela. E metade dela é muito tua. Mesmo que juntos não sejam, já, maiores que um. Mesmo que tenhas escolhido ser corpo e meio, sozinho. E que caminhes para de onde voltas apenas tu. Num lugar onde deixas meia parte dela. Aquela que carregas já sem a querer.
Não te pedi que suspendesses essa dor. Nem que parasses de a curar em ti. Não te pedi, que por segundos, tu olhasses para mim. Nem tão pouco que me mentisses com os lábios com que me beijas. Não te pedi que mudasses de rumo. Nem que parasses de caminhar.
Chegaste-me.
Pedi-te que não me deixasses no silêncio com que chegaste. E não demoraste a retomar caminho.
O mundo grita e eu não te consigo ouvir. Há muito ruído no silêncio em que me deixaste. Na verdade que levaste. E no lugar onde me encontraste.
Podias não ter parado em mim. Podias não ter interrompido a tua dor. Podias não ter mexido com a minha. Podias ser apenas tu e meio corpo dela.
Dois é maior que um. Mas não tu, meia ela e metade de mim.
Não assim.
… Deixa Ser …