Não perdoarei a sua morte ao mundo. Porque foi o mundo que a levou de nós… não Deus.
Este ir sem que a possamos re-olhar é a dor maior de segurar. Foste tantas coisas para nós, avó..Foste histórias e canções. Foste colo e cozinhados. Foste tardes e manhãs. Foste alegria num sorriso. Foste tantas coisas para nós, avó. Temíamos este dia há muitos anos mas sempre nos seguraste em força. Eras a maior força que conhecemos… estiveste tantas vezes perto da morte e nunca a deixaste vencer! Eras a pessoa mais forte que conhecíamos avó e não te poder rever dói mais do que alguma vez imaginámos… não me quero esquecer das caretas que ainda fazíamos a duas. Não me quero esquecer das vezes em que te relembrei de mim. Não me quero esquecer que a memória te falhou tanto… mas quem nem por um segundo a deixaste ser maior que tu. Mas quero esquecer-me que este vírus te levou. Não que te apanhasse… isso nunca deixarias… mas apanhou o mundo e não nos deixou estar mais contigo… sorrir mais contigo… abraçar-nos mais contigo… e a solidão levou-te. Este teres de viver sozinha, levou-te. Eras uma força imensa, porque criaste uma família imensa e o amor multiplicou-se para que o nosso colo fosse maior. Não me quero lembrar que foi o falta de colo que te levou.. quero recordar as malandrices que fizemos, os piscar de olhos que trocámos e o amor imenso que sentimos, enquanto nos pudemos cruzar contigo. Avó, não me quero despedir. Quero deitar-me contigo e dormir.
.
.
“de rabo fiz navalha, de navalha fiz sardinha, de sardinha fiz farinha, de farinha fiz menina, de menina fiz viola.. tum tum tum ‘vai o preto p’ra Angola’”
.
.
Foi a distância que a levou. Foi a desumanização que a levou. Foi a solidão que a levou.
.
.
Não perdoarei a sua morte ao mundo. Porque foi o mundo que a levou de nós… não Deus.
.
.
… Deixa Ser…