• Se isso não é a finalidade maior de se ser íntimo de alguém, então não o quero ser.

    O que mais me inquieta é que jurámos trazer sempre a verdade um ao outro e não fomos capazes de acreditar na verdade que o outro trouxe. Nunca nos deitámos sobre a certeza de que o que nos havia chegado era sincero. Nunca nos permitimos sossegar o pensamento. Nunca procurámos esse lugar mudo que não precisa de palavras para nos fazer confiar que a verdade que segurarmos de mãos dadas, é de facto, real. Sincera. Ou confiável. Encontrámo-nos muitas vezes na intimidade. Partilhámos prazer. E despedimo-nos, julgava eu, na verdade de que ambos éramos para lá de íntimos. E a intimidade é tão própria, tão bonita que não lhe quero…

  • Dois corpos despidos mas tão contidos ao mesmo tempo

    Sei-me insegura. Não de mim. Mas do que nos espera. Ou do que me espera. Caminhamos no desconhecido e, pela primeira vez, caminho separada de ti. Encontramo-nos nos entretantos. Sorrimos. Há um sossego demasiado doce em ti. Trocamos vontades, beijamos desejos. E voltamos a seguir caminho. Sem que levemos connosco o que trocámos. Sem que guardemos connosco o que beijámos. Num pisar de chão irregular, que não nos permite sentir, que não nos permite amar, mas que nos faz querer voltar. Caminhamos neste limiar. Que resulta nas nossas dúvidas, que se resolve nas nossas constatações. Mas que nos faz querer voltar. E não há grandes explicações. Sorrimos. Juntos, somos esta…

  • Cuidar de nós (Uma conversa sobre amor próprio)

    Hoje escrevo-vos num registo diferente. O Deixa Ser tem esta característica maravilhosa de poetizar as palavras e deixar o amor nas entrelinhas, mas a verdade é que, por vezes, sinto que preciso de ser mais concisa para que me leiam com maior clareza. Gosto de deixar os sentimentos entre pontos finais. Gosto de escrever para cada um e sentir que as leituras de todos são diferentes. Que o que sinto e vos entrego me sai de uma forma e, que vos chega de várias e tão próprias de cada um de vocês. Mas chegou a altura de falar de um tema que eu quero que se comece a ver mais…

  • Que nada, nem mesmo o amor, o permita desistir de si

    Vivemos num lugar de partilha. Que nos convida a trocar emoções. Que nos oferece ao coração dos outros. Que nos leva alguns do peito. Vivemos num lugar de chegadas. E partidas. Construímos caminhos. Arrumamos memórias. E amanhã é dia de dar. Ou receber. Vivemos neste lugar incerto. Onde nunca nos dizem se hoje é altura de dar o que temos, de receber o que não temos. De oferecer o mundo. De receber um susto. Vivemos num lugar de imprevistos. Cruzamo-nos com o amor. Temos a sorte de o abraçar, por vezes. Ou de o soltar também. Vivemos neste lugar cheio onde o mais importante é que nos sintamos sempre inteiros…

  • Selfie – Marcos Caruso

    Fomos ver o “Selfie”… e que peça! Esta história fez-nos rever um bocadinho a nossa, porque, na verdade, o telemóvel já é quase extensão da nossa mão. E é mesmo isto que é ali retratado. Cláudio, vive hiper ligado ao mundo digital e guarda toda a sua vida no seu computador, redes sociais e nuvens de armazenamento. A sua preocupação era que estes sistemas fossem sempre mais e melhores e quando se vê sem eles, perde não só toda a informação guardada como todo o seu passado. E viver a partir dali? É um pouco isto que, hoje, somos. Não nos orientamos sem peso no bolso. Guardamos tudo no telemóvel,…

  • “Isso é Psicológico”

    Pensei algumas vezes antes de escrever este texto. Primeiro porque acredito que o que me foi dito, de todas as vezes, não tenha sido com intenção de me mandar para de onde vim. Mas também, porque respeito a profissão. Independentemente de todas as suas falhas. Porque já a vi salvar vidas. Porque tinha uma enorme na família. E porque conheço muitos outros entre amigos. Nos últimos dois anos corri mais de 7 médicos à procura de respostas. Sabia que os sintomas não eram da minha cabeça. Sabia que alguém me havia de ouvir. Mas voltei sempre para casa com as respostas que não queria. O “ah isso é psicológico” foi…

  • Não Assim

    Perdeste-me no dia em que escolheste não me ter. Ou não olhar para trás. Perdeste-me exactamente no momento em que escolheste o amanhã em detrimento de um agora, maior. Maior porque dois é maior que um. Ou um e meio, pelo menos. Chegaste-me sem me entregares o teu passado. E saíste deixando apenas isso. A certeza de que ainda és corpo e meio … de alguém. Metade de ti é muito dela. E metade dela é muito tua. Mesmo que juntos não sejam, já, maiores que um. Mesmo que tenhas escolhido ser corpo e meio, sozinho. E que caminhes para de onde voltas apenas tu. Num lugar onde deixas meia…

  • Madalena, tão boa

    Esta graça de te ter… já te disse que a sorte é nossa em nos teres escolhido? Não temos como medir o que sentimos. Nem como explicar o que nos fazes sentir. Mas se um abraço é pouco, dois ou três também. Era preciso juntar todos os braços do mundo e mesmo assim, talvez não fosse suficiente. O coração bate mais forte. As pernas estremecem. E os olhos ficam assim… carregadinhos. É como se fosses tão especial que, só de nos chegares, já não nos sabemos equilibrar no corpo. (Risos) “como se fosses”. Bem.. é mesmo isso. Tu és. Para lá de especial. Isso, e tudo aquilo que algum dia…

  • A Primeira Parte do Meu Coração Fora do Peito

    Manel. O primeiro nome que nos encheu os corações. Que nos ensinou a verdade da palavra “amor”. O valor do colo. A alegria das primeiras palavras. O cantarolar sem letra definida. O adormecer mais leve do mundo. Com ele aprendemos a reaprender. A importância do brincar. Do ouvir. Do dar. E de o deixar voar. Num suster da respiração assente na fé dos nossos corações todos juntos. Ele, tem o fundo mais doce que alguma vez conheci. A palavra de aconchego num abraço dos dois. O sorriso miúdo de quem quer um beijo. E um amor imenso que partilha com o mundo. Ele é simplesmente tudo. Tudo numa pessoa só. Parabéns…

  • Todas As Coisas Maravilhosas – Ivo Canelas

    Todas as coisas maravilhosas é uma peça que nos leva a sentir todas as emoções maravilhosas vividas pelo seu autor. Num monólogo, na primeira pessoa, é-nos revelada, de forma bastante própria, uma lista. Uma lista de todas as coisas maravilhosas. Maravilhosas para ele. Maravilhosas para nós. Maravilhosas por serem tão simples. Maravilhosas por nos fugirem das mãos. A peça relaciona-se com a morte, mas celebra a vida. A sua personagem principal, fala-nos da tentativa de suicido da mãe e de como essa tristeza o fez começar a numerar todas as coisas maravilhosas que a vida ainda tinha para lhe oferecer. Esta força interior, que um pequeno rapaz de 7 anos…