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Amar, foi sempre mais dor do que amor
Fui coração aberto por tanto tempo. Soube sempre receber-te. Soube sempre vencer medos. Soube sempre dizer-te que sim. Mesmo quando os pássaros não cantavam. Mesmo quando os rios não corriam. Soube sempre estender os braços e recomeçar. . Deixei-me um dia cair. Não recordo ao certo quando. . As quedas, se lhes dermos esse espaço, podem ser lugares sem fim. E eu caí sem me dar conta do que significaria deixar-me ir. . Hoje, bem cá no fundo, concebo que este lugar para onde fugi me está a negar receber-te. Não me deixo amar. Quando nos entregamos aos medos, oferecemo-lhes relevância. . Não me lembro da última vez que te…
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Sobre desocupar o coração. Ou não.
Tenho o coração ocupado. Já faz tempo que não me deixava chegar. Sem saber porquê, nunca o consegui contrariar. Estava ocupado e não me dizia nada. Nunca tive um coração preenchido que batesse tão baixinho. Um bater ténue. Suave. Quase que imperceptível. Foi preciso encontrá-lo. E num reparo. Num suster da respiração. Percebo que durante todo este tempo, não se deixava ocupar por estar já indisponível. Esteve sempre ocupado. No silêncio de quem não se quer deixar conhecer. O silêncio protege-nos. E talvez por isso, está ocupado e não ocupa nenhum lugar. Não é correspondido. Mas também não se deixa denunciar. Tenho um coração pequenino, preenchido, em cada canto, num…
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Ver-te, não é o mesmo que olhar para ti
Estou imersa numa imagem tão bonita. Vejo-te. Como se o mundo estivesse todo a olhar para ti. Parámos, só para te olhar. Parámos e não se ouve respirar. Parámos e tens o mundo inteiro a suster o ar por ti. Na vida, nunca vivi momento mais bonito do que este de ter vista para ti. Há um deslumbre que me corre desde que me embati com a linha ténue que desenha o teu existir. Há um silêncio longo entre o momento em que te olho e este em que me reconheces. Porque há muito que nunca tinha parado para olhar para o que nunca vi. E eu nunca tinha parado…
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Está muito escuro e daqui não te consigo ver, mas espera por mim, estou a chegar.
Não te escrevo faz tempo. Talvez porque já não te sei escrever. Talvez porque já não te sei sentir. Ou porque estamos longe. Talvez seja apenas isso. A distância que faz sobrevoar, entre o vento leve e as folhas de outono, o sentir. Não te escrevo faz tempo, mas quero escrever-te todos os dias. Porque não quero esquecer-me do que é escrever sobre ti, sobre amor. Mas há um caminho gélido sem ti, que me levou as palavras e que me tem distanciado deste lugar. Quero caminhar sem ter medo de te encontrar. Ou de não nos voltarmos a cruzar. Quero caminhar sem olhar pelo ombro, ou distanciar as pessoas.…
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Quando deixou de ser suportável para mim
Eu posso ser amor, posso ser sentimentos. Posso ser poesia em cartas escondidas. Posso ser um bom dia de olhos rendidos. Posso ser desejo. Bocejo. . . Também posso ser algo menos sério. Posso ser cuidado e precaução. Posso ser companhia. Posso ser quem espera, quem ouve e não desanima. Posso ser o estado emocional certo capaz de se colocar no incerto até que se torne certo. Posso não me sentir completa e aceitar partilhar meio barco, contigo. Posso ser tudo. Posso ir sendo qualquer coisa. . . Mas também posso não ser. Posso não deixar que apenas te lembres de me trazer de volta quando o frio…
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Se isso não é a finalidade maior de se ser íntimo de alguém, então não o quero ser.
O que mais me inquieta é que jurámos trazer sempre a verdade um ao outro e não fomos capazes de acreditar na verdade que o outro trouxe. Nunca nos deitámos sobre a certeza de que o que nos havia chegado era sincero. Nunca nos permitimos sossegar o pensamento. Nunca procurámos esse lugar mudo que não precisa de palavras para nos fazer confiar que a verdade que segurarmos de mãos dadas, é de facto, real. Sincera. Ou confiável. Encontrámo-nos muitas vezes na intimidade. Partilhámos prazer. E despedimo-nos, julgava eu, na verdade de que ambos éramos para lá de íntimos. E a intimidade é tão própria, tão bonita que não lhe quero…
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Dois corpos despidos mas tão contidos ao mesmo tempo
Sei-me insegura. Não de mim. Mas do que nos espera. Ou do que me espera. Caminhamos no desconhecido e, pela primeira vez, caminho separada de ti. Encontramo-nos nos entretantos. Sorrimos. Há um sossego demasiado doce em ti. Trocamos vontades, beijamos desejos. E voltamos a seguir caminho. Sem que levemos connosco o que trocámos. Sem que guardemos connosco o que beijámos. Num pisar de chão irregular, que não nos permite sentir, que não nos permite amar, mas que nos faz querer voltar. Caminhamos neste limiar. Que resulta nas nossas dúvidas, que se resolve nas nossas constatações. Mas que nos faz querer voltar. E não há grandes explicações. Sorrimos. Juntos, somos esta…
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Não Assim
Perdeste-me no dia em que escolheste não me ter. Ou não olhar para trás. Perdeste-me exactamente no momento em que escolheste o amanhã em detrimento de um agora, maior. Maior porque dois é maior que um. Ou um e meio, pelo menos. Chegaste-me sem me entregares o teu passado. E saíste deixando apenas isso. A certeza de que ainda és corpo e meio … de alguém. Metade de ti é muito dela. E metade dela é muito tua. Mesmo que juntos não sejam, já, maiores que um. Mesmo que tenhas escolhido ser corpo e meio, sozinho. E que caminhes para de onde voltas apenas tu. Num lugar onde deixas meia…
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Com tudo por viver.
Desistir de ti é ter a certeza de que a minha ausência não te custa. É olhar para ti e ver o mesmo que ontem. Um deambular sem nada para contar. É isto que anuncias. É isto que denuncias. Um não retorno sem conclusões. Uma não resposta às minhas inquietações. E é isto que acontece quando nada continua. Porque nada fizemos por continuar. Desistir de ti é voltar a ver. É um ligeiro levantar da cabeça seguido de um primeiro passo, despovoado. Um des-sentir. De uma subtileza contínua. Desistir de ti é abandonar-te sem que dês por isso. Um escorregar dos lençóis, sob a cor do luar na janela, que…
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Quando deixamos de viver
Não pensei voltar a sentir um amor impossível. Destes que nos cortam a respiração duas vezes. Uma, quando nos chegam. Duas, quando não os podemos sentir. Mas sentimos. Numa troca de olhares, num cruzar de cheiros, num tocar dos dedos. E arrasa-nos. Despenteia-nos. Consome-nos, por completo. Por dentro. Por fora. Porque sentimos e não podemos sentir. Não pensei voltar a sentir um amor impossível. Olhar para ti e não saber gerir o que me vai cá dentro. Conter o que me vai no peito. Sem parecer perdida. Descontrolada. Por sentir e não poder sentir. É este o aspecto que temos quando amamos e não podemos amar. Como se um raio…