Medeia – João Garcia Miguel
Ali, naquele palco, naquela sala, encontramos Medeia.
Uma Medeia sem medo que nos toca com o seu desespero, a sua dor, a sua loucura e o seu amor..
Esta nova criação de João Garcia Miguel apresenta-se num palco praticamente desprovido de materiais mas que se enche, em toda a peça, quando atravessado pelo fantástico desenho de luz e pelo trabalho de som que acompanha cada fala, numa doce composição para piano. Todo este trabalho de produção espelha as emoções explosivas de Medeia, personagem retratada pela actriz Sara Ribeiro que nos oferece sempre uma experiência vulcânica de si. Com ela, temos o prazer de ver o palco ser engolido pelo seu talento num grito!
Numa viagem por uma das peças trágicas de Eurípedes, somos arrastados pelo trabalho performativo gigante destes atores, onde o corpo se desprende das suas barreiras e se enche de um “sem limites” que nos leva a partilhar da mesma dor que se faz sentir em palco. À medida que a sua história se vai desenvolvendo o desespero de Medeia e sua dor irrompem e trespassam tudo. E todos.
É impossível ficar indiferente à energia criada em cima do palco de João Garcia Miguel, onde a musica ao vivo intensifica cada palavra, cada silêncio , cada gesto, cada pensamento, como se de um diálogo perenal se tratasse, entre o piano, os actores, a luz e o público.
Medeia leva-nos tudo. E devolve-nos tudo, numa simples frase de amor.
“Estavam tão belos quando os afoguei … os meus filhos…. Todos sentados no fundo do mar como quem se prepara para ouvir uma história”.
Fez-se luz. E a plateia não tem mãos para aplaudir este assombro. Gigantesco.
Crítica Artística
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