Para nós

Quando deixamos de viver

Não pensei voltar a sentir um amor impossível. Destes que nos cortam a respiração duas vezes. Uma, quando nos chegam. Duas, quando não os podemos sentir. Mas sentimos. Numa troca de olhares, num cruzar de cheiros, num tocar dos dedos. E arrasa-nos. Despenteia-nos. Consome-nos, por completo. Por dentro. Por fora. Porque sentimos e não podemos sentir. Não pensei voltar a sentir um amor impossível. Olhar para ti e não saber gerir o que me vai cá dentro. Conter o que me vai no peito. Sem parecer perdida. Descontrolada. Por sentir e não poder sentir. É este o aspecto que temos quando amamos e não podemos amar. Como se um raio nos caísse em cima e já não soubéssemos caminhar. Esta promessa que não precisa de outras ou palavras sequer, que nos chega sem aviso e nos faz desnorteados, reconhece-se muito antes de nascer. Já amávamos sem saber. Num mundo por acontecer. Num tempo por acordar. Damos por nós e não respiramos há mais de um minuto. Ou dois. Ou três. Sobe-nos pelo corpo acima. Apropria-se dos seus movimentos. Ocupa todos os lugares. E não nos permite não a reconhecer. Porque só assim se concretiza, quando deixamos de viver. E já só sabemos sentir. Mesmo que não a possamos assumir.

E é mesmo isso. Amor. Uma promessa silenciosa.

… Deixa Ser…

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