Teacher perceived difficulty in implementing differentiated instructional strategies in primary school – Sergio Gaitas e Margarida Alves Martins
“É impossível ser-se professor, porque ou estamos na acção ou estamos na reflexão”
Freud
Quis começar com esta frase porque depois da leitura extensa que fiz sobre este tema é isto que me salta à vista como a maior dificuldade dos professores. Ser professor é a maior dificuldade dos professores. Porque um professor tem que ser esta constante “dança” entre estes dois pontos: a acção e a reflexão. Não pode existir uma acção sem que se reflicta sobre ela, mas também não pode existir uma reflexão sem que, depois se espelhe o seu fruto, na acção do professor. Ser professor não é tarefa fácil, porque o professor é requerido em toda a sala, por todos os seus alunos, em simultâneo. E mesmo que estes não solicitem o seu apoio, o professor tem que ter um olhar atento a todo o grupo, tem que estar em todo o lado ao mesmo tempo.
Algures no tempo, definiu-se que o ensino expositivo seria a forma mais eficaz para o professor chegar a todos. Ou seja, dispôs-se a sala de aula virada para uma figura central e todos os alunos, cada um na sua mesa, estariam atentos ao discurso que o professor preparou para transmitir o conhecimento. Assim, a “ginástica” que o professor tinha que fazer para chegar a todos era menor. Quase como se unissem todos os alunos num só e o professor apenas tivesse que se preocupar com o resultado do grupo. Esta, infelizmente, é a prática utilizada por uma grande maioria de professores. Por vários motivos. É mais fácil e menos trabalhoso preparar um discurso para todos, com base na temática que o professor escolheu abordar naquele dia. É mais fácil e menos trabalhoso orientar a aprendizagem de todos, de forma equiparada. É mais fácil e menos trabalhoso fazer um teste para todos que avalie os conhecimentos adquiridos. Mas logo no início deste texto, não leram qualquer coisa como “ser professor é a maior dificuldade dos professores”? E será que fazer um trabalho mais fácil e menos trabalhoso é ser professor?
Algures mais à frente no tempo, percebeu-se que esta não é a melhor forma de chegar a todos. Porque as crianças não são todas iguais. Porque as crianças não aprendem todas da mesma forma. Porque as crianças também têm ritmos de aprendizagem próprios de cada uma. Porque alguns captam facilmente a informação que está a ser transmitida e outros não. Então o que é que acontece a estas crianças? As crianças que não estão a conseguir aprender?
Ora no ensino do “antigamente”, desenham-se planos de apoio à aprendizagem, que também têm um método linear e se nem dessa forma a criança conseguir aprender “o melhor é ficar para trás”. Mas até quando? Até quando é que se chutam as crianças para trás das costas? Até atingirem a maioridade? E depois? Vou voltar a repetir: Algures mais à frente no tempo, percebeu-se que esta não é a melhor forma de chegar a todos. (já não era sem tempo!)
Em sala, as diferenças de todos vão ressurgindo, sob o olhar atento do professor. E cabe a este, saber diferenciar o ensino, tendo em conta as desigualdades. Cabe ao professor, avaliar o ponto de desenvolvimento em que cada criança se encontra, perceber os seus interesses e criar estratégias de aprendizagem que respeitem o seu ritmo. Cabe ao professor identificar oportunidades de novas aprendizagens, agilizar o processo, e para além de respeitar os ritmos de cada um, cabe ainda ao professor, soltar-se do papel principal em sala. O papel principal na aprendizagem é das crianças. Cabe ao professor saber responsabilizar as crianças da regulação da sua aprendizagem. Este é o ponto principal do momento.
A criança regula-se a si própria, claro que, com o apoio necessário em sala (quer do professor, quer dos colegas) e mais uma vez, sempre sob o olhar atento do professor.
E porque é que o ensino ainda não se virou para este lado a 100%? Porque é mais difícil e mais trabalhoso.
Este texto, mostra-nos que o problema talvez esteja na formação dos professores, quer enquanto alunos nas suas escolas, quer enquanto futuros professores na universidade. Não são proporcionados momentos de contacto com o ensino diferenciado. E se os há, são pequenas conferências de um ou outro docente que valoriza a diferenciação pedagógica e/ou a sugestão de leituras de autores que abordem esta questão, descartando a responsabilidade dos docentes em materializar estratégias de ensino, estudos de caso, estágios de observação e até integração dos futuros professores em salas de aula de privilegiem o ensino diferenciado.
Mas será que o problema está na falta de formação ou na atitude de alguns formadores? Será que não se faz formação direccionada para a diferenciação porque… para alguns, é mais difícil e trabalhoso ensinar um professor a diferenciar?
Talvez o problema não esteja na falta de formação adequada, mas numa mudança acima da formação. Ao nível dos planos curriculares. Ao nível do sistema educativo.
Reflexão Crítica acerca de uma das Problemáticas da Educação