Se isso não é a finalidade maior de se ser íntimo de alguém, então não o quero ser.
O que mais me inquieta é que jurámos trazer sempre a verdade um ao outro e não fomos capazes de acreditar na verdade que o outro trouxe. Nunca nos deitámos sobre a certeza de que o que nos havia chegado era sincero. Nunca nos permitimos sossegar o pensamento. Nunca procurámos esse lugar mudo que não precisa de palavras para nos fazer confiar que a verdade que segurarmos de mãos dadas, é de facto, real. Sincera. Ou confiável. Encontrámo-nos muitas vezes na intimidade. Partilhámos prazer. E despedimo-nos, julgava eu, na verdade de que ambos éramos para lá de íntimos. E a intimidade é tão própria, tão bonita que não lhe quero tirar esse encanto. Mas ser para lá dela, é esse ser mais do que apenas isso. Íntimos. A intimidade é talvez o lugar mais desprotegido que conheço. Mas quando vivida para lá de actos, práticas e ajustes, ganha significados, cobertos de confidências, talhadas de privacidade. Não a quero tornar banal. E partilhá-la de qualquer forma, com qualquer pessoa. Principalmente com alguém que escolhe não olhar para ela desta maneira. Tão delicada. Tão séria. Tão exclusiva. Para quem não importa o conhecido que fica entre dois corpos nus. Escolhemos aqueles com quem a partilhamos e guardamos momentos bonitos. Torná-la ordinária é tirar-lhe a exclusividade. É tingir um momento bonito. Um acender das luzes no momento em que te vens. E o mundo inteiro assistiu ao instante em que lesaste o que faz de nós pessoas tão ricas. Este segurar de um momento tão doce, entre quem troca segredos de corpo nu, perde todo o propósito no momento em que assaltas a verdade que não trouxeste e te propões a vulgarizar isto. A unicidade que é, ser íntimo de alguém que escolheu entregar-te este prazer. O corpo de quem se expõe e se completa ao mesmo tempo. Sem que para isso seja preciso encontrar amor. A verdade é suficiente para conservar esta ternura. A verdade e o querer. Para se ser para lá disto, para se ser para lá de íntimo, sem medo do que nos está a acontecer.
… Deixa Ser…
