Confiaram-me a vida que conceberam, o António.
Queridos Diana e Pedro,
Um dia escrevi sobre o vosso amor. Hoje quero escrever-vos pelo amor que vos tenho.
Olho-vos, todos os dias, embevecida. Como quem tem ainda tanto para recolher. E vou conservando. Em pensamentos, palavras, rascunhos e apontamentos. O que vou sentindo.
A verdade. O compromisso. A bondade. O respeito. A empatia. O colo. O amor.
Vejo-vos cuidar. Do vosso amor. Do amor que nutriram em pessoas. Da vossa família. Dos vossos amigos. Da vossa vida. Vão regando as plantas que vão semeando e cuidando de cada uma com a serenidade de quem está a construir a fundação mais sólida que vamos poder encontrar.
A vida vai rolando. As pessoas vão correndo. As luzes vão acendendo e apagando. Mas nem por um segundo se distraem da vossa missão. Vejo-vos unidos. Mesmo nas tempestades. Em dias de chuva, é no abraço de cada um que se protegem e se certificam que amanhã acordam de mãos dadas, mais firmes.
Amam-se. E amam quem vos rodeia. Ou quem procuram que vos rodeie.
Tenho-vos no meu coração.
…
Viram-me um dia, no reboliço da rotina, a um canto. Como que uma planta murcha. A precisar de carinho. Foram-me regando. Podia dizer “na esperança de me recuperar”. Mas não. Foram-me regando. Sem segunda intenção.
Nunca vos disse, mas é isso que vejo. Cuidam, por cuidar. Amam, por amar.
Foram, por muitos dias, colo. E eu, por muitos dias, lágrimas. E nem por isso me senti menos amada.
Num leve desabrochar, de quem se começa a sentir segura para caminhar, deram-me a mão.
…
Num aperto, num susto, que de repente nos levou tudo, segurei eu as vossas mãos unidas, na certeza de que estávamos seguros. A base que ergueram, nos últimos anos, era demasiado sólida para a deixarmos abalar.
Rezámos muito. E pedimos muito. E num sacudir de nuvens e re-olhar o céu, veio a cura. E o António. Uma bênção. Uma dádiva.
…
No reencontro dos nossos olhos, vocês confiaram-me a sua vida.
Viram em mim o colo que escolheriam se a vida não vos tivesse devolvido o amor que concedem a todos com quem partilham o céu. Ou amor.
Confiaram-me a vida que conceberam.
E eu voltei a chorar.
Desta vez de alegria, de comoção.
A sentir-me muito amada.
…
Guardo os vossos três filhos no colo. Na alma. Com muito amor.
O António, como segunda mãe. A Luísa e a Carminho com o mesmo amor.
Porque não podia ser diferente. Seguro nas mãos o ramo mais bonito.
Não há flores que fiquem para trás.
Vocês são isso mesmo.
Todos um.