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Chegou a primavera
Chegou a primavera, trouxe-me o teu perfume. Não sei bem como lhe segredar quão importante tem sido ter-te aqui. Sem urgências. Sem pressas. Sempre, de sorriso no rosto. Com ela vieram uma série de dúvidas, medos, receios e anseios. Talvez de um passado mais escuro. Talvez de um futuro tão incerto. Talvez um dia te entregue essa verdade, no conforto do teu abraço. Mas chegou a primavera, e trouxe-te, sem esse peso. O de me sarar o fundo. O de me segurar as dores, do lado esquerdo do peito. E faz-me, todos os dias, um bocadinho mais feliz. Desde que com ela me chegam a cada noite retalhos teus, faz-me…
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Dia Mundial Da Poesia
O amor, quando se revela, Não se sabe revelar. É ferida que dói, e não se sente; De alguém que finge completamente. Que é dor, A dor que deveras sente. O amor, quando se revela, Não se sabe revelar, São lágrimas impotentes, De quem não sabe o que dizer. Falam: parece que mentem… Calam: parecem esquecer… Olha então, essas tuas mãos vazias, No maravilhado espanto de saberes De quem quer dizer o que sente, E se acomodou ausente. Hoje não sei, nem pergunto Como é que antes o sabiam dizer, Amamos hoje, mais do que ontem, Vivemos reféns deste prazer. — Compilação para “Dia Mundial Da Poesia” – Artes Performativas…
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Está a ser bom
Digamos que ter-te aos bocadinhos está a ser bom. Fazes questão de aparecer nas minhas mais caóticas manhãs, procuras-me mesmo que seja para um encontro de cinco minutos. Preocupas-te, com a minha concentração no trânsito das cinco, não te deitas, sem antes te despedires e ainda juras, fazer exercício pelos dois. Está a ser bom. Ter-te aos bocadinhos. E perceber que também tu, aos bocadinhos, me vais tendo. De uma maneira ou de outra. Mas vais tendo. Por entre esses teus assaltos à minha rotina. Vais tendo. E escreves-me. Tal como eu te escrevo e desenho as tuas primeiras impressões. Estou segura de que fazes o mesmo. Escrevemo-nos, para que…
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Tenho-te.
Guardo o teu nome cravado em todas as esquinas da vida. Tenho-te, desde que nos comprovámos esculturas um do outro. Quando concebíamos emoções desmedidas. Sem ponderações mútuas. Sem arrependimentos prematuros. Quando nos fizemos corpo e se firmou em nós esta pertença, senti-nos completamente arrastados para uma condição maior. Sem que nos conferissem tempo para arrumar sensações. Eras-me o mundo. Cegámo-nos aos dois. Convertemo-nos. E assentimo-nos partes conjuntas. Fazias parte de mim. Fazes parte de mim. Ainda que já não te cuide. Mesmo ciente que deixei de o sentir. Fazes parte de mim. Tu e todas as pequenas coisas que trouxeste para me ultimar. E que me fizeram outra. Como que atravessada por…
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Não se explica
Não se explica. As tuas teorias e histórias de encantar que me levam a viajar por todo um mundo novo, recheado de super heróis bailarinos no fundo do mar. Não se explica. As novidades do dia, que partilhas sempre que nos cruzamos nos corredores da escola. Ou os nossos segredos que entregas a outros atrás da porta porque sabes que te vou presentear com um abraço. Nosso. Não se explica. O que se me passa no peito sempre que corres na minha direcção. Ou sempre que me ofereces um “és a minha amora”. Não se explica. O que nos une. E nos faz tão cúmplices. O que nos corre no sangue…
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Fica-me.
Despertas em mim sentimentos inversos. Permites que subsista no limiar desta inquietude e entregas-me, sem fundamento, os nossos caminhos. Sereno. Completamente seguro das minhas incertezas. Confias-me. Atentas-me. Deixas que corra por mim um desmedido descontrolo de emoções que te seduz, sem piedade. E provocas-me. Empurras-me para que te seja mais fácil traduzir todas as minhas palavras em branco. Despes-me. Aprendes-me. Trazes-me de volta. Assim. Sem requisitos. Mesmo sabendo-me desalinhada, cimentas-me no teu abraço. Abrigas-me o coração. Arrepias-me. E levas-me de arrasto para um novo inicio. Onde nos queremos e não nos podemos ter. Onde nos queremos e não nos deixamos ceder. Segura-me o rosto. Fica-me. Com tudo. Mesmo sabendo que nada sabemos sobre este amor. … Deixa…