• Medeia – João Garcia Miguel

    Ali, naquele palco, naquela sala, encontramos Medeia. Uma Medeia sem medo que nos toca com o seu desespero, a sua dor, a sua loucura e o seu amor.. Esta nova criação de João Garcia Miguel apresenta-se num palco praticamente desprovido de materiais mas que se enche, em toda a peça, quando atravessado pelo fantástico desenho de luz e pelo trabalho de som que acompanha cada fala, numa doce composição para piano. Todo este trabalho de produção espelha as emoções explosivas de Medeia, personagem retratada pela actriz Sara Ribeiro que nos oferece sempre uma experiência vulcânica de si. Com ela, temos o prazer de ver o palco ser engolido pelo seu…

  • Dédalo -Miguel Graça

    Um texto que nos enche de um nada que nos diz tudo. Que nos leva numa viagem incessante por entre palavras que todos conhecemos e histórias que já todos vivemos. Aproxima-nos. Afasta-nos. Faz-nos conceber em mente cada uma das descrições narradas e coloca-nos em cada uma delas, como se fôssemos essa quarta pessoa de que tanto se fala mas que nunca se vê. Num reboliço de emoções, peripécias e desilusões, dois actores, presentes, e um autor, ausente, cansam e conquistam-nos o pensamento entrando e saindo da realidade, somando pitadas de ficção. Contam-nos as suas histórias sem nunca sabermos o quanto suas são mas falam-nos desse aqui e agora onde temos…

  • Actores – Marco Martins

    Uma peça que se concentra no trabalho puro do actor. Na construção e descontracção da personagem numa dimensão muito mais violenta. Num construir e desconstruir quase instantâneo. Com a preocupação de não espelhar um início, meio e fim contínuos. Com a preocupação de amachucar a comodidade. Num passar e repassar de emoções distintas à velocidade da luz envolvido num trabalho corporal exaustivo para cada um dos actores. Um trabalho desenvolvido em volta das memórias, vivências, peças e trabalhos anteriores de cada uma das pessoas escolhidas para um cenário vestido de laboratório experimental onde cada um deles, recorda, revive, peças e trabalhos anteriores carregados de personagens tão cheias. Mas mais que…

  • O Teatro no Colégio Piloto Diese ou será melhor chamar-lhe Jogo?

    Trabalho como professora de teatro no Colégio Piloto Diese, mas de facto, ao que faço, não lhe quis chamar teatro, nem tão pouco expressão dramática, porque no fundo, tudo o que trabalhamos não é nem uma coisa nem outra. Confundimos muitas vezes as palavras “teatro” com “expressão dramática” e acabamos ainda por juntar as duas saindo um… “teatro dramático”, sem nunca pôr em causa as suas definições. Ora começando pela palavra teatro, o dicionário português define-a como: “Local destinado a jogos e espetáculos públicos, na antiga Roma; Edifício onde se representam obras dramáticas; Conjunto de obras dramáticas, geralmente de um autor, de um país, de uma época; Arte de representar; Profissão…

  • Dia Mundial Da Poesia

    O amor, quando se revela, Não se sabe revelar. É ferida que dói, e não se sente; De alguém que finge completamente. Que é dor, A dor que deveras sente. O amor, quando se revela, Não se sabe revelar, São lágrimas impotentes, De quem não sabe o que dizer. Falam: parece que mentem… Calam: parecem esquecer… Olha então, essas tuas mãos vazias, No maravilhado espanto de saberes De quem quer dizer o que sente, E se acomodou ausente. Hoje não sei, nem pergunto Como é que antes o sabiam dizer, Amamos hoje, mais do que ontem, Vivemos reféns deste prazer. — Compilação para “Dia Mundial Da Poesia” – Artes Performativas…

  • Perspectivas (Situación Actual De La Educación En Los Museos De Artes Visuales) – María Acaso

    Um texto. Em tempos, numa primeira abordagem com a mediação das artes, foi-me dado um texto. Li-o uma primeira vez, confesso que na diagonal, e percebi pouco. Li-o uma segunda e terceira vez, mais a fundo, e percebi pouco. Por momentos, senti-me sozinha, numa sala onde todos falavam do mesmo e de mim não saiam palavras. Congelei. Seria suposto eu ter assimilado alguma coisa? Seria suposto eu não ter assimilado coisa alguma? Apercebi-me de que não era a única. Algures, naquela sala tão pequena que asfixiava todas as ideias que supostamente me chegavam sobre mediação, não era a única. Outros tantos também se encontravam de pensamento vazio. Ou cheio. Confuso.…

  • Nova Iorque – Como é vivida a arte?

    “New York is made up of millions of different people, and they all come here looking for something.” ― Lindsey Kelk Será? Será que todos os que lá vão procuram efectivamente coisa alguma? Nova Iorque é definitivamente a cidade que nunca dorme e claro está que as suas artes estão também sempre despertas. Todas as manhãs os seus visitantes existem na correria pela possibilidade de imersão nas mais variadas casas das artes, tal como todas as tardes, tal como todas as noites. As organizações alinhadas de pessoas formam-se e os pequenos compartimentos de venda de cartões-de-visita esgotam todas as impressões do dia. E as horas passam. O público observa. Uma,…

  • A Nuvem – 9ª Bienal do Mercosul

    Maria Lind inicia a sua exposição em relação à questão “por que mediar a arte?” com a própria definição da palavra “mediação”. No fundo, para se discutir todas as questões levantadas por esta primeira, é fundamental esmiuçar isto: o que é efectivamente a mediação. Será realmente a transmissão pragmática de uma mensagem? Na verdade nunca chegaremos a uma conclusão. Tal como com a arte. A essa ninguém se atreve a atribuir significados, preferem viver em conformidade com a mesma fazer dela tudo aquilo que ela poder ser. Na mediação procura-se o mesmo. Não em tamanha escala, mas sim, exactamente o mesmo. Procura-se quebrar convenções, explorar novas formas de a concretizar…

  • Against Interpretation – Susan Sontag

    Até que ponto. Até que ponto! Até que ponto? Até que ponto é que nós, seres pensantes, temos este direito de acrescentar cores à obra de arte? Até que ponto é que nos cabe a nós descompor essa transparência? Essa primeira essência emaranhada em formas e conteúdos singulares, que fazem dela uma experiência irrepetível? Até que ponto?! Será esse o nosso papel? O de separar conteúdos de formas e atribuir novas interpretações à arte? Teremos mesmo um papel interventivo na arte? Esprememos a arte mimética até que dela emergisse um conteúdo. Conteúdo esse que dizíamos ser uma conjunto de elementos, próprios de cada obra, mas aos quais nós, seres pensantes,…

  • Curating And The Educational Turn – Paul O’Neill & Mick Wilson

    Humberto Eco e Rancière abordaram ambos, esta ideia de que a arte não está completa sem um intérprete. Como tal, a participação activa desse mesmo observador, a possibilidade de obra aberta, fez com que todos os conceitos de “arte”, “obra”, “artista”, “público”, “mediador” e “instituição” tivessem que sofrer reestruturações. E sendo que todos somos participantes da obra, então também as questões de “autoria” sofreram alterações e por sua vez, as noções de obra enquanto “trabalho” ou “objecto artístico”. Assim, as obras de arte desenvolveram-se sobre novos modelos de produção e até de apresentação, porque lhes foi dada a possibilidade de participação do público na sua criação e porque cresceram sem…