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Talvez aí o mundo fosse mais feliz.
Devia existir uma forma de desconsquistar corações. Desconquistar porque perder já existe. E a perda não passará nunca disso mesmo, uma perda. Tudo termina nesse lugar onde um dia decidimos perder. O que foi. O que existiu. O que sentimos. O que vivemos. Perde-se. Com essa exacta frieza. Perde-se. E amanhã deixa de existir em nós. Mas o mundo devia encontrar uma forma não tão dura de perder. Um desconquistar. Tal como vivemos um conquistar. Passo a passo. Dia a dia. Sem pressas, sem de repentes. Aos poucos. Talvez precisemos de nos desabituar de tudo isso a que nos acostumámos. Sem que para isso fosse preciso passar por um processo…
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O tempo não cura porra nenhuma.
Mesmo que nos digam que o tempo se encarrega de levar a dor, desconfiem sempre. Na verdade o tempo apenas se responsabiliza por nos afastar de tudo isso que tanto doí dentro de nós. E basta-nos essa distância para doer menos. O tempo atenua. E na verdade ajuda. Porque eventualmente um dia mais tarde, quando escolhemos a hora de olhar para trás, custa menos. Já não é tão nosso. Porque tudo ficou, onde nesse dia decidimos deixar. E deixa de nos pertencer a certo ponto. Mas o tempo não cura. Digam os peritos, os entendidos, os eruditos e até os convencidos. O tempo não cura nada. Essa dor, essa mágoa,…
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Que dor esta que me teima em não soltar
Hoje queria acordar e deixar de sentir. Em tudo o que vejo há pedaços de ti. Em cada lugar, em cada carta, em cada sonho… há tanto de ti. Dentro de mim embaraçam-se nós. De tudo aquilo que fomos ou tudo aquilo que não pudémos ser, cada vez mais apertados… Vencem-me. Sufocam-me. Até eu querer deixar de sentir. Mesmo quando me deixo dormir, há qualquer coisa cá dentro que me acorda de minuto a minuto e me rebenta num pranto infindo… As lágrimas não escoam. Nem mesmo durante a noite. Nem mesmo durante o dia. E não há meio de cessar esta dor por completo. Nem apenas por um segundo.…
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No dia em que decidimos suster a respiração.
É isto que se segue quando nada continua. Um vazio incalculável. Uma dor compacta. De repente dei por mim, a suportar-nos em braços num mar imenso, onde tudo o que queríamos era chegar a esse lugar, que nos devolve a respiração e nos permite continuar. Não nos conseguíamos despedir desta condição, cada vez mais nos conduzíamos para o fundo. Num desespero esgotante. Estavas a escolher ser do mundo. E deixa de haver espaço para nós quando escolhes ser do mundo e desistes de amar. É isto que se segue quando nada continua. Um não amor. Uma não vida em comum. Um final não feliz. Ou apenas, um final.
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Sempre que vais, pareces não voltar.
Abraço-te. Abraço-te e receio nesta verdade de que no fundo não me és meu por inteiro. Escapas-me para outros lugares. Escondes-te noutros viveres. E sossegas. Pedes ao tempo que te dê mais tempo, para pisares as tuas próprias pegadas. Sinto-me suspensa. Toda eu, suspensa. Há qualquer coisa que me arrasta para cima e me diz que em momentos, sou pedaços de mim. Sou medo. Estou a perder-te para outro lugar. E o meu maior medo, é perder-te para outro lugar. Segues caminho sozinho e em suspenso fico sem chão. Sem corpo. Sem voz. Ponto. Sempre que me deixo ocupar pelo medo, sei-nos ponto. Somos ponto. Sem extensões, nem complementos. Sem amanhã, nem depois. Neste…
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Traz-me o tempo que ainda não vivi de ti.
Do tempo que vivi de ti guardo palavras. Tantas quanto conheço. As que ontem, me confessavam o que sentia. As que hoje se amplificam no que sinto. Do tempo que vivi de ti guardo amor. Todo este sentimento que se atravessa por mim a dentro e me leva de anseio para junto de ti. Do tempo que vivi de ti, não conheço tudo o que sinto. Julguei sabê-lo de cor. Como que todas as palavras do mundo existissem para te entregar este amor. E cada uma delas, fosse mais um detalhe de tudo isto que guardo aqui. Onde assentas a tua mão direita e se faz sentir um bater. Desmedido. Do tempo…
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As certezas que arriscamos conservar em amor.
Esta é a nossa forma de jurar. Juramos assim. Presos no olhar um do outro, prometemos não quebrar as certezas que arriscamos conservar em amor. E adormecemos. Num sono tranquilo onde o passado se refaz em rascunho e as emoções se deixam segredar, no abraço dos dois. Segredamo-nos para que a noite nos aqueça. Sinto-te. Num aperto de meia noite. Por segundos perdeste o sono e já não te era certo, de que eu estaria exactamente ali. Corpo a corpo. Junto a ti. Reconheces-me o suspiro e aproximas-te de mim. -“quero dormir assim contigo todas as noites da nossa vida” – E um beijo. Beijas-me para que te seja certo,…
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Aqui, sente.
O que te sinto começa-me no peito. Aqui, sente. Percorre os mais ínfimos cantos do meu corpo e completa-nos … num beijo. Nesse. Nosso, tão nosso. Atravessa-me. Como que o cheiro que seguras na pele perdurasse em mim, cravado nos traços que ficam de ti. Aqui, sente. Não termina. Não lhe encontro um fim. E só quando de repente, não me sei sentir, reconheço o quanto realmente te sinto. Aqui, sente. Faz-me acreditar que metade do que visto, em pensamentos, palavras, gestos e costumes, és tu. Sou metade de ti. Sou inteira de tudo isto que sinto por ti. Mesmo quando o que não queremos se atravessa no nosso caminho, continuo suspensa no que me arrasta…
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Perto. Juntos. Nosso.
Sei-te longe sempre que nos silenciamos a dois. Nunca sonhamos num mesmo sentido. Tu viajas por esse mundo fora, eu caminho pelo que te sinto adentro. Sem que por segundos se cruzem os lugares dos dois. Suspiramos por esses dias e regressamos a nós. Não nos damos conta mas … escondemos sempre os rostos. Como que o outro, só pelo olhar, pudesse saber o que nos vai em mente e no instante seguinte nos condenasse os sonhos. Que a tanto segredo guardamos em nós. Tenho medo, pensamos. Que o futuro nos leve para longe de nós e no amanhã fique o que foi do dois. Tenho medo, sussurramos. Por sabermos que esse espaço não nos promete…
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Tu. Eu. E esse alguém que nos juntou.
Acredito num mundo onde todos nós somos feitos por um alguém. Alguém que te desenha, te escreve, te encaminha e te deixa voar. Alguém que te cria na certeza de que segues caminho, incompleto. Tu e outro. Em casas diferentes. Acredito num mundo onde dás os primeiros passos em parte, nu. Porque te faltam pedaços. Ou retalhos de alguém. Não esse. Outro. Acredito num mundo onde um alguém concebe outros dois, sabendo que ambos precisam um do outro. Assim. Exactamente assim. Um lugar onde a ti, não te dão tudo. Mas dão-te alguém que algures um dia te completa por inteiro. Na plenitude de um amor maior. Eu, nasci nesse mundo. Esculpida…